Problemas de Pele (Dermatológicos) em Pets
A pele é o maior órgão do corpo dos nossos pets e exerce um papel essencial na proteção contra agentes externos, regulação da temperatura corporal e até mesmo na comunicação (como na troca de cheiros ou na posição dos pelos). Por isso, manter a pele saudável vai muito além da estética – é uma questão de saúde e bem-estar.
Não é à toa que os problemas de pele estão entre os motivos mais frequentes de consultas em clínicas veterinárias. Coceiras persistentes, feridas, vermelhidão ou queda excessiva de pelos são sinais que preocupam muitos tutores e, muitas vezes, indicam condições que requerem diagnóstico e tratamento especializado.
As causas de doenças dermatológicas em cães e gatos são diversas. Entre as mais comuns estão as alergias (a alimentos, picadas de pulgas ou substâncias do ambiente), infestações por parasitas como pulgas e carrapatos, infecções fúngicas ou bacterianas, além de fatores hormonais e ambientais.
Neste artigo, você vai entender melhor como identificar os principais sinais, quais são as causas mais comuns e como cuidar da saúde da pele do seu pet de forma segura e eficaz.
Anatomia Básica da Pele em Cães e Gatos
Antes de entender os problemas dermatológicos que podem afetar nossos pets, é importante conhecer o básico sobre a estrutura e a função da pele em cães e gatos. Esse conhecimento ajuda a compreender por que certas doenças se desenvolvem e como preveni-las.
Estrutura da pele: epiderme, derme e folículos pilosos
A pele dos pets, assim como a dos humanos, é composta por três camadas principais:
Epiderme: camada mais externa, que atua como barreira protetora contra agentes externos, como bactérias, fungos e produtos químicos. Também é onde ocorre a renovação celular.
Derme: localizada logo abaixo da epiderme, é rica em vasos sanguíneos, terminações nervosas, glândulas sebáceas e sudoríparas. Essa camada é responsável pela nutrição e sustentação da epiderme.
Hipoderme (ou tecido subcutâneo): camada mais profunda, formada principalmente por gordura e tecido conjuntivo. Atua como isolante térmico e reserva energética.
Além disso, a pele contém folículos pilosos, que são as estruturas responsáveis pelo crescimento dos pelos. Eles também podem ser locais de inflamações ou infecções, como nos casos de foliculite.
Diferenças entre a pele de cães e gatos
Apesar de parecerem semelhantes, a pele de cães e gatos possui algumas diferenças importantes:
Espessura: a pele dos gatos é geralmente mais fina e delicada do que a dos cães, o que a torna mais suscetível a traumas e cortes.
Número de folículos pilosos: os gatos têm mais folículos por centímetro quadrado de pele, o que explica a textura mais densa e macia da pelagem.
Glândulas: cães possuem mais glândulas sudoríparas nas patas, enquanto os gatos contam com mais glândulas sebáceas associadas aos folículos, o que influencia na oleosidade natural da pele.
Essas diferenças podem influenciar tanto na manifestação quanto no tratamento de doenças dermatológicas.
Funções principais da pele
A pele dos pets vai muito além de uma “capa protetora”. Ela exerce funções essenciais para a saúde:
Proteção: atua como uma barreira física contra traumas, microrganismos e substâncias químicas.
Sensibilidade: rica em terminações nervosas, a pele permite que o animal perceba calor, frio, dor e pressão.
Regulação térmica: ajuda a manter a temperatura corporal por meio da circulação sanguínea, respiração cutânea e troca de calor pelos pelos.
Comunicação e comportamento: os odores produzidos por glândulas na pele têm papel importante na comunicação entre animais.
Compreender essas funções reforça a importância de manter a pele do seu pet saudável e bem cuidada — afinal, ela está diretamente ligada à qualidade de vida do animal.
Principais Sinais Clínicos de Problemas Dermatológicos
Identificar precocemente os sinais de problemas de pele é fundamental para garantir o bem-estar do seu pet e evitar que uma condição simples evolua para algo mais sério. A seguir, veja os sintomas mais comuns observados por tutores e veterinários:
Coceira (prurido)
A coceira é um dos sinais mais evidentes de que algo está errado. O pet pode se coçar com as patas, esfregar o corpo em móveis ou até lamber excessivamente determinadas regiões. Em muitos casos, o prurido está ligado a alergias, parasitas ou infecções de pele.
Vermelhidão (eritema)
A pele avermelhada indica inflamação local. Pode aparecer em áreas específicas, como orelhas, abdômen e entre os dedos, e geralmente acompanha outros sintomas como coceira e inchaço.
Queda de pelos (alopecia)
A perda de pelos localizada ou generalizada pode sinalizar desde uma simples troca de pelagem até doenças mais sérias, como dermatites, sarna ou distúrbios hormonais.
Feridas, crostas e pústulas
Lesões visíveis na pele, como crostas, bolhas com pus (pústulas), feridas abertas ou com secreção, são sinais de infecção, alergia severa ou infestação por parasitas.
Mau cheiro
Um odor desagradável vindo da pele ou do pelo pode indicar infecção bacteriana ou fúngica. O cheiro muitas vezes persiste mesmo após o banho, o que é um alerta para procurar um veterinário.
Pele ressecada ou oleosa
A textura da pele também pode mudar: pode ficar ressecada, com descamação (semelhante a caspa), ou excessivamente oleosa, favorecendo infecções e desconforto.
Observar esses sinais e agir rapidamente é o primeiro passo para garantir que o pet receba o tratamento adequado.
Principais Causas Dermatológicas
Os problemas de pele em cães e gatos podem ter diversas origens. Conhecer as principais causas ajuda a entender a complexidade dos casos dermatológicos e reforça a importância de um diagnóstico profissional.
Alergias
Dermatite atópica (alergia ambiental)
É uma condição crônica causada por alérgenos ambientais, como pólen, ácaros, mofo e até poeira doméstica. Afeta principalmente cães, causando coceira intensa, vermelhidão e infecções secundárias.
Alergia alimentar
Alguns pets desenvolvem alergia a proteínas específicas da dieta, como frango, carne bovina ou laticínios. Os sintomas costumam incluir coceira persistente, problemas digestivos e inflamações na pele.
Dermatite alérgica à picada de pulga (DAPP)
É uma das causas mais comuns de coceira intensa. A reação ocorre devido à saliva da pulga, mesmo que o animal não esteja com infestação visível. Um único contato pode desencadear sintomas fortes.
Ectoparasitas
Pulgas e carrapatos
Além de causarem coceira e irritação, esses parasitas podem transmitir doenças graves. Infestações prolongadas provocam lesões, infecções e dermatite alérgica.
Sarna (sarcóptica e demodécica)
A sarna sarcóptica é altamente contagiosa e causa coceira intensa. Já a demodécica geralmente está relacionada a imunidade baixa, sendo mais comum em filhotes ou cães idosos.
Piolhos
Embora menos comuns, os piolhos podem afetar pets, principalmente em situações de higiene precária. Causam coceira e irritação, mas são tratáveis com antiparasitários específicos.
Infecções
Fúngicas (dermatofitose ou micose)
Podem provocar lesões circulares, queda de pelo e coceira. É uma condição contagiosa, inclusive para humanos, exigindo atenção e cuidados com o ambiente.
Bacterianas (piodermite)
Podem surgir como infecções primárias ou secundárias a outros problemas de pele. Os sinais incluem crostas, secreções purulentas e mau cheiro.
Virais (papilomatose)
Causada por vírus, resulta em verrugas na pele ou mucosas. É mais comum em cães jovens ou imunossuprimidos e geralmente não causa dor, mas pode precisar de remoção.
Problemas endócrinos e hormonais
Hipotireoidismo
Mais frequente em cães, essa condição desacelera o metabolismo, provocando queda de pelos, pele seca, escurecimento da pele e letargia.
Síndrome de Cushing
Ocorre quando há excesso de cortisol no organismo, levando à perda de pelos, pele fina, infecções recorrentes e aumento da sede e da urina.
Fatores ambientais ou irritativos
A exposição a agentes químicos (como produtos de limpeza), contato com grama tratada com pesticidas, poeira ou até clima seco e quente pode causar irritações, inflamações e coceiras na pele dos pets. Animais com pele sensível são especialmente vulneráveis a esses fatores.
Diagnóstico
Quando um pet apresenta sinais de problemas de pele, o diagnóstico correto é essencial para garantir um tratamento eficaz e evitar recorrências. Por isso, os veterinários seguem uma abordagem cuidadosa, que combina observação clínica com exames específicos. Veja como esse processo funciona:
Anamnese detalhada e histórico clínico
O primeiro passo é uma entrevista com o tutor, onde o veterinário coleta informações sobre o dia a dia do pet: alimentação, rotina de higiene, exposição a produtos ou ambientes diferentes, uso de antiparasitários, início e evolução dos sintomas, entre outros detalhes. Esse histórico é crucial para levantar suspeitas iniciais e guiar os próximos passos da investigação.
Exame dermatológico completo
Em seguida, o veterinário realiza um exame físico minucioso da pele, pelos, unhas e ouvidos do animal. Ele observa aspectos como:
Localização das lesões
Presença de feridas, crostas ou secreções
Textura da pele (seca, oleosa, espessa, fina)
Odor e sensibilidade ao toque
Esse exame ajuda a delimitar o problema e diferenciar causas alérgicas, parasitárias, infecciosas ou hormonais.
Raspado de pele, citologia e cultura fúngica
Com base no exame físico, o profissional pode coletar amostras para exames laboratoriais:
Raspado de pele: ajuda a identificar ácaros causadores de sarna.
Citologia: avalia a presença de bactérias, fungos, leveduras e células inflamatórias.
Cultura fúngica: usada principalmente para diagnosticar micoses (dermatofitoses), que podem ser transmitidas a outros animais e humanos.
Esses testes são simples e geralmente realizados no próprio consultório.
Testes alérgicos
Se houver suspeita de alergia, o veterinário pode solicitar testes alérgicos (intradérmicos ou sorológicos) para identificar os agentes desencadeantes, como ácaros, pólen, alimentos ou fungos ambientais. Embora nem sempre conclusivos, esses exames ajudam a direcionar o controle do ambiente e da dieta.
Biópsia em casos crônicos
Nos casos mais complexos, persistentes ou de origem incerta, uma biópsia de pele pode ser indicada. Ela consiste na coleta de um pequeno fragmento de pele para análise histopatológica. É um exame mais invasivo, porém muito útil para diagnosticar doenças autoimunes, tumores cutâneos ou inflamações crônicas.
O diagnóstico dermatológico muitas vezes exige paciência e investigação detalhada, pois diferentes doenças podem apresentar sintomas semelhantes. Por isso, nunca se deve recorrer à automedicação — apenas o veterinário está capacitado para descobrir a causa real e indicar o tratamento adequado.
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Tratamento
Controle da causa base (parasitas, alergia, infecção)
Medicações tópicas e sistêmicas (shampoos, antibióticos, antifúngicos, corticoides, anti-histamínicos)
Dietas hipoalergênicas, controle ambiental
Tratamento contínuo e acompanhamento
Prevenção e Cuidados Contínuos
Quando o assunto é saúde da pele dos pets, prevenir é sempre melhor (e mais barato) do que remediar. Além de evitar sofrimento ao animal, cuidados contínuos ajudam a manter a qualidade de vida e evitam o surgimento de doenças dermatológicas comuns. Confira abaixo as principais estratégias de prevenção:
Controle rigoroso de pulgas e carrapatos
Parasitas externos como pulgas e carrapatos são grandes vilões da saúde da pele dos pets. Mesmo em ambientes urbanos, eles podem causar coceiras intensas, alergias (como a DAPP) e transmitir doenças graves.
Dica: Utilize antiparasitários recomendados por veterinários, seja em formato de comprimido, coleira ou pipeta (spot-on), e mantenha o ambiente sempre limpo e tratado.
Alimentação adequada
Uma nutrição balanceada é essencial para a saúde da pele e pelagem. Rações de qualidade, ricas em proteínas, ácidos graxos essenciais (como ômega 3 e 6), vitaminas e minerais, ajudam a manter a pele hidratada, resistente e livre de inflamações.
Atenção: Dietas caseiras ou mudanças bruscas na alimentação devem ser feitas somente com orientação profissional, pois podem desencadear alergias ou deficiências nutricionais.
Banhos regulares com produtos específicos
A higiene adequada é parte importante do cuidado dermatológico, mas exige atenção:
Evite banhos excessivos, que podem ressecar a pele e retirar a proteção natural.
Use sempre shampoos veterinários específicos para a pele do seu pet, especialmente se ele tiver pele sensível ou algum problema pré-existente.
Enxágue bem os produtos para não deixar resíduos que irritem a pele.
Para pets com histórico de doenças de pele, o banho pode se tornar parte do tratamento, com uso de shampoos terapêuticos prescritos.
Avaliações periódicas com o veterinário
Mesmo que o pet pareça saudável, consultas regulares são essenciais. O veterinário pode identificar sinais iniciais de problemas dermatológicos e orientar sobre prevenção, nutrição e cuidados com o ambiente.
Recomendação: Faça check-ups pelo menos uma vez por ano — ou com mais frequência se o animal já teve histórico de alergias, infecções ou distúrbios hormonais.
Com atenção contínua e cuidados simples no dia a dia, é possível evitar grande parte dos problemas dermatológicos que afetam cães e gatos. Uma pele saudável é reflexo direto de um pet bem cuidado!
Considerações Finais
Os problemas de pele em cães e gatos são mais comuns do que muitos imaginam — e, felizmente, na maioria dos casos, podem ser tratados com sucesso quando identificados precocemente. Por isso, é fundamental que os tutores estejam atentos a qualquer alteração na pele ou pelagem do seu animal, como coceiras frequentes, feridas, vermelhidão, mau cheiro ou queda de pelos.
Um erro comum é tentar resolver esses sintomas em casa, utilizando produtos inadequados ou automedicando o pet com remédios humanos ou antigos. A automedicação, além de ineficaz, pode agravar o quadro clínico e dificultar o diagnóstico correto. Cada problema de pele tem uma causa diferente e, portanto, exige uma abordagem personalizada.
Se você notar qualquer sinal fora do normal na pele do seu pet, não espere para buscar ajuda. Consulte um médico veterinário de confiança o quanto antes. Somente ele poderá investigar a causa real, realizar os exames necessários e indicar o tratamento mais seguro e eficaz.
Lembre-se: cuidar da pele do seu pet é cuidar da saúde dele como um todo. Com atenção, carinho e acompanhamento profissional, é possível manter seu companheiro sempre saudável, confortável e feliz.
Perguntas Frequentes (FAQ)
É normal meu pet se coçar de vez em quando?
Sim, coçar-se ocasionalmente é normal. No entanto, coceira frequente, intensa ou localizada, especialmente acompanhada de vermelhidão, feridas ou queda de pelos, é sinal de alerta e deve ser investigada por um veterinário.
Posso usar pomada ou shampoo humano no meu pet?
Não. A pele dos animais é muito diferente da humana, inclusive em pH. Produtos humanos podem causar irritações, alergias e piorar o quadro dermatológico. Use apenas produtos veterinários recomendados pelo profissional.
Como saber se meu pet tem alergia alimentar?
A alergia alimentar pode causar coceira, inflamações na pele e até problemas gastrointestinais. O diagnóstico geralmente exige uma dieta de exclusão supervisionada por um veterinário, que vai testar alimentos específicos ao longo de semanas.
Pulgas podem causar problemas de pele mesmo se eu não as vejo no pet?
Sim. Alguns animais desenvolvem dermatite alérgica à picada de pulga (DAPP), e apenas uma picada já pode desencadear coceira intensa e inflamações, mesmo que você não veja pulgas ativamente no animal. A prevenção contínua é essencial.
É possível prevenir todos os problemas de pele?
Nem todos, mas muitos problemas dermatológicos podem ser evitados com controle de parasitas, alimentação de qualidade, banhos com produtos adequados e acompanhamento veterinário regular. A prevenção é sempre o melhor caminho.